quinta-feira, 24 de maio de 2012

Breve...

Alguns já sabem que eu escrevo para aliviar minhas próprias angústias, mas é bom relembrar.
Hoje eu resolvi falar de morte.  Muitos acreditam que a morte é um evento com dia e hora marcados. Cheio de flores, declarações e lágrimas. Eu acredito que a morte é um processo.
Na tarde do dia 30 de dezembro de 1986 eu comecei a morrer. Dei meu primeiro suspiro, poderia ter sido o único, mas não foi. Mas o fato é que naquele instante, enquanto dezenas de pessoas comemoravam a vida, mesmo que eu não tivesse consciência de nada, ali iniciava a minha jornada para a morte.
Têm pessimistas que vão parar de ler o texto, porque a morte lhes é indigesta demais. Para outros, o tema desperta certa curiosidade, por isso vão prosseguir. Já alguns, vão ler porque já leem minhas histórias e devem esperar um final feliz para esta também. Mas poucos, muito poucos vão ler porque entendem o quanto insignificante é o breve instante que ocupam no espaço e no tempo deste mundo.
Quero dizer que é muita ingenuidade da nossa parte pensarmos que nossa existência é melhor ou mais importante do que a de qualquer outro ser vivo dessa Terra. Tolos acreditam que vão ficar para semente e que caminham apenas para a vida. Nascemos totalmente precários. Dependemos do outro para nos alimentar, nos aquecer e para nos amar. Somos um ser que só existe porque uma ou mais pessoas decidiram que merecíamos relativa atenção e que de tempos em tempos ganharíamos um pouco de leite, uma roupa quentinha e um colo acolhedor onde pudéssemos lembrar daquele útero onde fora nossa primeira casa.  
Creio que sábios semeiam enquanto podem, pois o fim de cada um de nós é mais próximo do que imaginamos. Não estou tecendo uma teoria do fim do mundo. De Nostradamus eu nada tenho. Estou falando de vida e principalmente de morte. Todos os dias temos pequenos ensaios de morte, para justamente tentar fugir da ideia da mesma.
Fechamos nossos olhos, por exemplo, para uma enfermidade. Quer evento mais próximo da morte do que uma doença? Na cabeça da maioria das pessoas é assim. E aqueles que não conseguem lidar com a finitude da sua própria existência, evitam perceber o fim de outro ser. E aí fica aquele jogo de “cobra-cega”. A questão é que quando fechamos nossos olhos para o outro, eles deveriam ficar escancarados para nós mesmos. Só que não ficam. É por isso que dá um alívio momentâneo. É breve também essa consolação, porque muito depressa somos invadidos  novamente pelo medo da nossa não existência.
Insensatos! Vivem como se nunca fossem morrer, mas se atiram a cada dia para a morte. Mesmo que não paremos para pensar sobre isso, dia após dia caminhamos em direção ao morrer. Viver é um esforço diário, intenso e contra a correnteza. Que vamos todos morrer, nós sabemos. O que não sabemos é o quanto e como vamos viver. Daí a angústia. E por isso as pessoas invertem o sentido das coisas. Temem a morte, enquanto o que de fato é desconhecido é a Vida. O mistério é conseguir viver saudável e positivamente.
Se me perguntassem hoje se estamos mais vivos ou mais mortos, diria que poucos são os audaciosos que estão lutando e vivendo. Mas a maioria esmagadora está no ritmo das águas, mortos, apenas indo. Seguindo o fluxo...
Morrer é muito fácil. Sem que você se dê conta, nesse instante em que parou para ler o texto, uma parte do seu corpo morreu. E você está crente que está vivendo a mil por hora. Tamanha ignorância! Você está apenas atropelando pessoas e pior: a si mesmo. Morrer é muito simples, não precisamos nos esforçar para isso. O nosso modo natural de ser já é inclinado a morrer. E pior: a matar. Matamos inúmeras pessoas ao longo do dia, do mês e da nossa existência. Quem sabe aniquilando-as eu consiga viver um pouco mais, como em algumas tribos indígenas que acreditam que ao matar um guerreiro a sua força passa para o assassino. Ah! Aniquilamos o outro para tentar viver mais um imperceptível milésimo de segundo neste mundo. É, estamos realmente mortos!
Acordei hoje decidida a compartilhar com alguns o sentido da vida e o da morte. Não me interessa saber o que cada um pensa que seja, ou para onde irão após a vida e se é que creem que irão para algum lugar. Interessa pra mim saber o que farei irei enquanto estou morrendo. Como usarei os segundos que me restam? O que darei àqueles que durante algum tempo me permitiram continuar alimentado, aquecido e amado? Que frutos deixarei? Que marca imprimirei? Quem Eu terei sido?
Você pode ter morrido por 25, 40 ou 60 anos. Neste momento você não é mais uma criança no entendimento. Você já percebeu que está morrendo como qualquer outro ser, então por que se abater com esta realidade? Por que perder o seu sono por isso? Por que se debulhar em lágrimas? Acorde para a morte e VIVA!