segunda-feira, 18 de julho de 2011

O menino, a ponte e o pote de ouro.

Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais, porque delas é o reino dos Céus. Lucas 18:16

Eu ainda estou na dúvida se é algo consciente, incosciente ou uma ação sobrenatural. E isto que me deixa na dúvida ainda faz meus olhos lacrimejarem só de lembrar. Isso me faz querer escrever pra aliviar um pouco o desconforto diante da insensibilidade, cegueira, surdez e burrice humana.
Nunca fui muito boa em matemática, física e química, além disso precisei de ajuda para conseguir ser aprovada no 2º e 3ºano, porque se não fosse o Ricardo, sua paciência para ensinar e sua inteligência numérica eu ainda estaria no ensino médio. Acho que por isso dediquei minhas energias em desenvolver habilidades menos concretas, porém estruturantes do mesmo modo.
Eu não preciso explicar que todo trabalho de edificações passa por longos anos de estudos matemáticos (Cálculo 1 ao infinito, Resistência dos materiais, Dinâmica, Estática...) essa coisa toda até que seja possível construir algo. E como é trabalhosa e difícil essa empreitada, visto que não basta saber calcular é preciso ter VISÃO.
Mesmo assim, a inteligência de um adulto não supera a sensibilidade de uma criança. Não é por acaso que o paraíso pertença a elas, pois sagazes como são, fazem de tudo para ensinar aos adultos que se não forem simples como elas são, nunca entenderão o verdadeiro valor das coisas.
Essa semana aprendi com um bebê de apenas um ano e meio como se constrói pontes. Ele tem linguagem, tem pensamento, porém ainda não se expressa como nós, por isso preferiu usar a língua de anjos, que é a música.
Ao ouvir pela milésima vez o mesmo cd e buscando nos dizer uma mensagem, esse minúsculo ser escolheu, entre tantas músicas, uma que diz assim: “Sei que ainda sou criança tenho muito que aprender, mas quero ser criança quando eu crescer”. A cada trechinho da música ele sorria para todos que estavam presente, além de dançar livremente, demonstrando seu contentamento. “Vamos construir uma ponte em nós. Vamos construir, pra ligar seu coração ao meu com o amor que existe em nós!” E parecia que ele estava só brincando, quando na verdade, sempre que chegava no refrão ele aumentava o volume do som ao máximo.
Alguém pode dizer que isso é só uma coincidência, talvez seja para você que sabe construir pontes que ligam cidades e até países, mas é incapaz de construir uma ponte que ligue dois corações.
Além de um desejo e um pedido, acredito que esse bebê estava nos contando como se sente e quem ele era. Quem sabe assim ele fosse capaz de ligar tantos corações separados em volta dele. Quem sabe assim ele conseguisse expressar “Que amar é importante pro meu mundo e para o seu, mas eu tenho a esperança de você ser meu amigo”.
Crianças são inteligentes, não estão aqui para aceitar migalhas, porque elas se dão por inteiro e não se vendem por dinheiro ou por apenas 5 minutos do seu dia.
Dizem que no final de um arco-íris sempre tem um pote de ouro, mas o problema é que nunca conseguimos ver o final dele e então sempre ficamos com a sensação de que não temos tesouro algum. O verdadeiro pote de ouro está no final de uma ponte, onde o único tesouro descoberto é o amor.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Brilha, brilha estrelinha!

Em geral, meus textos são destinados a alguém muito especial para mim, ou são apenas reflexões que faço sobre a vida, sobre minha vida. Hoje, cumprindo uma palavra a alguém muito querido vou falar sobre vagalumes quebrados.
No último feriado, enquanto fazia um divã virtual com uma amiga, ouvi a seguinte frase: "me sinto como um vagalume quebrado". Aquilo me deixou meio confusa e perplexa por alguns segundos, mas em seguida vieram as ideias pipocando na minha cabeça (1 milhão delas). Falei pra ela que escreveria um texto sobre nossa conversa e ela autorizou.
Frequentemente, as pessoas não gostam de insetos, excetuando as borboletas e os vagalumes. Esses bichinhos que têm uma capacidade singular de emitirem um pontinho de luz pelo seu esqueleto, fenômeno denominado de "Bioluminescência". Dizem que há dois motivos para eles fazerem isso: para sua defesa e para atrair outro vagalume, em geral para a reprodução.
Pensando nisso fiquei com uma dúvida do tamanho do Maracanã: por que essa pessoa do meu divã virtual se vê como um vagalume quebrado? Você já se viu como um vagalume quebrado? Como é que eu me vejo, hoje? Lembrei de um livro de Arteterapia que li há 15 dias e imaginei essa amiga pintando alguma coisa que não esteja sendo capaz de brilhar mais.
Minha amiga me disse que ela até se esforça, mas que em algum momento ela sente que parou de brilhar, que não consegue chamar a atenção pra ela, mesmo sabendo que em alguns momentos ela precisa dessa atenção. Isso não é uma apologia a “gente aparecida”, e sim uma demonstração de como nós, humanos, podemos nos sentir incapazes de marcar a vida de alguém e a nós mesmos.
Comparando-a ao vagalume, relacionando à todas as coisas que ela me disse, percebo que minha amiga tem no mínimo dois problemas ao se sentir assim: ela se encontra desprotegida contra possíveis ataques que venham sobre ela. Talvez esteja mesmo no escuro, tateando as coisas sem de fato conseguir ver o que está vindo na sua direção, podendo até ser coisa danosa a ela. O outro é que ao se sentir sem essa luz própria todas as suas relações ficam comprometidas. São os familiares, os amigos, os amores, o trabalho – todos eles talvez não consigam captar a verdadeira pessoa que está meio cinzenta, ultimamente.
Então, ela me perguntou: “o que eu preciso fazer, Maya???” Calma, eu não quebrei o código de ética do divã virtual! Fiz um encaminhamento a alguém que possa acolhê-la no mundo real e aí sim ajudá-la a sacudir um pouco esse corpo, porque foi o que eu disse a ela: talvez não esteja quebrado, só precisa sacudir um pouco pra luz voltar a brilhar.
Depois de toda essa conversa fiquei pensando em quantas pessoas, ou quantas vezes eu me boicotei por achar que minha luz havia se apagado. Algumas vezes, até poderia ter me sentido meio quebrada, faltando alguma parte. Mas tudo sempre esteve aqui mesmo, só que escondido naquela última gaveta, onde a gente só guarda coisa que pensa ser inútil. Até o dia em que sacudi tudo e o que estava escondido veio para primeiro plano. Foi aí que comecei a brilhar.