terça-feira, 5 de outubro de 2010

Aliança de Casamento.

É engraçado como uma segunda-feira, ou melhor, apenas dois minutos do dia de ontem são suficientes para mover meus dedos até este texto. Interessante é que, através desta crônica eu espero dar vazão aos meus pensamentos, que até agora me inquietam.
Normalmente, quase ritualísticamente, fiz tudo igual desde que acordei no início desta semana. A única diferença é que vi o noticiário pela manhã e soube que teremos segundo turno nas eleições presidenciais. Enfim, notícia emblemática para os acontecimentos posteriores do dia.
No caminho para o estágio preciso tomar dois ônibus, o primeiro me deixou na Leopoldina, famosa entre os cariocas. Perdi a segunda condução e fiquei aguardando a próxima. Estava tranquilamente olhando aquele grande movimento, que nunca deixa ninguém tranquilo, mas eu estava. Foi aí que os dois minutos importantes do dia se efetuaram. Um adolescente sentado numa bicicleta parou ao meu lado e disse, bem baixinho e calmo: "Passa o anel!" - eu pensei que havia escutado mal e respondi: "Oi?", ele repetiu o pedido: "Passa o anel!" - eu havia entendido certo, mas respondi: "Oi?", estávamos muito próximos um do outro e eu olhava nos olhos dele. Então ele insistiu: "Passa o anel!", agora eu respondi olhando para aquele jovem: "Ah cara, eu não posso é a minha aliança de casamento!".
Eu não podia prever que eu reagiria assim, muito menos que o jovem, simplesmente pegaria a bicicleta e iria embora. Eu não fiquei nervosa, meu ônibus chegou e segui meu destino. Disse a verdade para o jovem, mas as reações não condizem com o imaginário social que temos do "pivete". Ele se foi,s em me questionar nada e creio que as outras pessoas que estavam no ponto de ônibus nem perceberam o que se passou ali diante deles. Na verdade, não perceberiam mesmo, pois estamos falando de uma classe invisível, que só é vista através do estigma da criminalidade.
É a segunda abordagem em seis meses, a primeira com um grupo de crianças e agora com este adolescente. De fato nunca sabemos qual será a nossa reação diante de uma fato desses.
Há quatro meses trabalho com jovens em situação de risco psicossocial, e acho que esse fato tem contribuído para mudar meu olhar sobre eles e sobre o mundo.

3 comentários:

  1. Querida Maya. fico dividida coma a tristeza pelo ocorrido e a felicidade com a sua rara capacidade de ver o invisível. Amiga obrigada por mais uma vez você me ensinar a ser uma pessoa melhor. Que você continue assim fazendo a diferença. Bjusss voadores

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  2. Deixa seu pai saber desse ocorrido...em 30 minutos ele chega ai pra te buscar...rsrs
    Falando serio agora, voce consegue ver coisas ocultas aos meus olhos...isso dá medo...rsrs
    Parabéns mana
    ps:qro ser igual a vc quando crescer!
    Bjo

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  3. Ha Prima, você tem um imã néh? Toma cuidado. Só pra tranquilizar entre nesse blog, e aprende algumas dicas de como escapar de um assalto.
    http://www.naosalvo.com.br/vc/12-maneiras-de-escapar-de-um-assalto-de-maneira-criativa/

    BjO.

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