sábado, 3 de abril de 2010

Muro da Maré.

Vem aí Jogos Olímpicos e Copa do Mundo na cidade do Rio de Janeiro. Todos nós, moradores ou turistas, desejamos uma cidade limpa, bonita, segura e acolhedora. Então, não deveríamos nos chocar quando passamos pela linha vermelha, na altura do Complexo da Maré.

Passava eu, hoje, pela linha vermelha sentido centro, quando notei um enorme "muro" separando a movimentada via de acesso da Comunidade marginal. Digo marginal, porque está à margem de uma das mais importantes linhas de integração da cidade carioca.

Funcionários da prefeitura montavam um gigante paredão com colunas de ferro e preenchimento de acrílico. O chocante é que não há mais visibilidade do que tem por detrás daquele "muro". Imagens serão anexadas ou pintadas nas armações de acrílico, tudo, é claro para deixar mais bela a "cidade maravilhosa".

Para os leitores que não moram no Rio de Janeiro é bom ressaltar que o Complexo da Maré fica exatamente na entrada principal da cidade. Temos no entorno a Ilha do Governador, com o Aeroporto Internacional Tom Jobim e a Ilha do Fundão, com a cidade Universitária e a monstruosa obra da Petrobrás.

Os leitores podem estar pensando que estou ficando maluca, afinal o que há de tão desagradável no desejo de "limpar" a cidade? Todo o mundo volta o seu olhar para a nossa cidade, então nada melhor do que deixá-la preparada para os nossos visitantes, e claro, os nossos investidores.

Entretanto, o que me deixa perplexa é a forma como tudo é feito. Produz um certo mal-estar, porque a sensação é que estão "varrendo a sujeira por debaixo do tapete".

Em ano de eleições presidenciais, nossos governantes acreditam mesmo que somos tão ingênuos a ponto de esquecer que existem problemas sociais urgentísimos, que precisam ser vistos para serem mudados, e não simplismente ocultados?

É uma ofensa não só aos moradores da Comunidade da Maré, como a todos os cariocas. Da mesma maneira que tentam esconder uma favela, farão com a saúde, com a segurança pública e com a educação.

Não sei se todos tem esse conhecimento, mas em algumas regiões da Ilha do Governador falta água há um mês, sem contar os outros bairros da Zona Norte, baixada, Zona Oeste.

Se enumerarmos os problemas na saúde faltará espaço neste blog, no entanto é tão abandonada e inificaz que pessoas ainda morrem sem atendimento nas filas de UPA's ou nos hospitais públicos cada vez mais despreparados.

Com tudo isso caro leitor, desejo que você se questione sobre sua passividade política. Reveja seus conceitos e valores, para não sair por aí acreditando que "o que os olhos não veem, o coração não sente". Sente sim, e estamos na hora de mudar o nosso modo relaxado de viver e ser mais questionadores sociais, agentes de transformação na nossa cidade.

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